Idealizado pela organização Amigos da Terra – Amazônia Brasileira e lançado este ano, o Atlas do Trabalho Escravo no Brasil traz dados sobre os casos registrados de trabalho forçado no país e duas novas ferramentas para auxiliar autoridades na formulação de políticas públicas: os índices de probabilidade de trabalho escravo e de vulnerabilidade ao aliciamento.
De acordo
com o documento, o típico escravo brasileiro do século 21 é um migrante
do Norte ou Nordeste, de sexo masculino, analfabeto funcional, que foi
levado para municípios isolados da Amazônia, onde é utilizado em
atividades vinculadas ao desmatamento.
O índice de probabilidade de trabalho escravo leva em consideração as
especificidades dos municípios nos quais o Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE) já comprovou a exploração. Foi observado, por exemplo,
que a maior parte do problema ocorre em regiões isoladas, distantes dos
centros urbanos. A partir daí, as demais cidades do país com
características semelhantes são classificadas como tendo probabilidade
alta de trabalho escravo. Os principais focos identificados são Mato
Grosso, Pará e Maranhão.
Já o índice de vulnerabilidade ao aliciamento tem como base a origem
das pessoas escravizadas que já foram libertadas pelo MTE, cerca de 40
mil. São feitos levantamentos sobre as condições econômicas e sociais
dos estados de onde vieram esses trabalhadores. Com base nessa análise é
possível identificar a relação desse recrutamento com a miséria, já que
a maioria é analfabeta funcional vinda do Maranhão e Piauí, os estados
mais pobres do Brasil.
A forma de aliciamento mais comum é a promessa de grandes salários
para homens de regiões muito pobres. Eles são conduzidos até locais
remotos e contraem dívidas relativas ao transporte. Quando chegam,
passam a receber quantias ínfimas por mês e sua única opção para se
alimentar são os armazéns de seus empregadores.
“Os valores da comida são muito superiores aos de mercado”, relata o
geógrafo Eduardo Girardi, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e um
dos autores do trabalho. “Os preços absurdos têm a função de fazer o
trabalhador se sentir moralmente preso àquele lugar até pagar a dívida, o
que é impossível.”
Segundo Girardi, as pessoas também são constantemente humilhadas
física e psicologicamente. Tudo isso ocorre sob a vigilância dos
jagunços, homens armados que atiram em quem tenta fugir. A esse
respeito, o atlas apresenta dados sobre a violência das cidades com
maiores probabilidades de ocorrência de escravidão.
De acordo com a pesquisa, as atividades que mais utilizam mão de obra
forçada estão ligadas à criação de novas fazendas, como desmatamento
para abertura de pastagens, cuidado com esses terrenos e produção de
carvão vegetal.
As principais fontes utilizadas na realização do atlas foram dados do
MTE e da Comissão Pastoral da Terra, ONG que faz levantamentos e
campanhas sobre o tema desde 1975. Os autores – além de Girardi, Hervé
Théry, Neli Aparecida de Mello e Julio Hato, da Universidade de São
Paulo – também usaram informações do Atlas da Questão Agrária, elaborado
por Girardi em seu doutorado (2008).
Fonte: Ciência Hoje On-linefonte: http://mundogeo.com/blog/2012/08/22/geografos-lancam-atlas-do-trabalho-escravo-no-brasil/
Em 22/08/12
O oeste baiano também faz parte, observem o mapa acima!
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